quinta-feira, 26 de abril de 2012

Eles têm mel


Rio - O ‘mel’ aí do título é justificado pela quantidade de doces canções do Kid Abelha que grudam nas cabeças de mais de uma geração, desde quando, há 30 anos, enviaram uma fita para a rádio Fluminense FM emplacando ‘Pintura Íntima’ (“Fazer amor de madrugada/Amor com jeito de virada”) na programação. Afinal, quem nunca se flagrou cantando esse refrão ou “Eu quero você/Como eu quero”?

Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato festejam as três décadas de trajetória hoje e amanhã, com show na Barra da Tijuca, e ainda na terça-feira, feriado do Dia do Trabalho, com apresentação gratuita em São João de Meriti. Só uma coisa impressiona mais que descobrir que você sabe cantarolar praticamente todo o repertório do grupo: constatar ao vivo o ‘fenômeno’ Paula Toller, que completa 50 anos de idade no dia 23 de agosto, mas parece que nunca envelhece.
“Virei o Benjamin Button”, diverte-se a cantora, citando o personagem, popularizado no cinema por Brad Pitt, que vai ficando mais novo ao longo dos anos. “Tenho disciplina de atleta. A dica é simples: sa-cri-fí-cio”, enfatiza.
Quando despontou no cenário como uma das únicas cantoras do rock brasileiro nos anos 80, Paula Toller, registre-se, ainda não era essa lindeza toda. O cabelo da hoje loura fatal ainda era curto, castanho e cacheadinho, e a pele revelava as espinhas da adolescência. Foi só adotar os cabelos longos com mechas claras e uma pegada mais sexy para pipocar o apelido de ‘a Madonna brasileira’.
“Não me lembro disso, mas não me importaria com essa comparação, adoro a Madonna, embora ache que não tem nada a ver. Eu me casei com cineasta décadas antes dela, portanto ela, sim, teria me imitado”, compara, citando o marido, o cineasta Lui Farias.
Paula aparenta estar cada vez mais jovem. No entanto, sua voz, ela mesma garante, está cada vez mais madura. “No início, era uma voz a ser lapidada, mas já tinha personalidade. À medida que fui ganhando confiança, ela adquiriu mais nuances de interpretação e um timbre mais furta-cor”, classifica ela, que no início da carreira foi chamada de desafinada e recentemente foi ironizada virtualmente por Ed Motta, que a descreveu como “linda, burra e sem talento”.
Paula Toller prefere nem comentar tais críticas. A loura responde no palco, enfileirando seus clássicos, como ‘Por Que Não Eu?’, ‘Garotos’, ‘Lágrimas e Chuva’, ‘Educação Sentimental’, ‘Amanhã é 23’: a lista é grande.

GRAVAÇÃO DE DVD
O Kid Abelha aproveita os shows na Barra para registrar tudo e lançar um DVD comemorativo. O primeiro sucesso, ‘Pintura Íntima’, está no repertório. O que o grupo tenta explicar até hoje, 30 anos depois, é o que quer dizer o enigmático refrão da canção. “É um mistério. Quer dizer que você vai ter dificuldade em esquecer dessa música assim que começar a ouvi-la ou cantá-la”, brinca o guitarrista Bruno Fortunato.
COM JEITO DE VIRADA
Antes de se resumir a um trio, o Kid Abelha já foi um sexteto. A formação foi mudando até que, no disco de estreia, ‘Seu Espião’, de 1983, o grupo era um quarteto, com o cantor, compositor e baixista Leoni completando a chamada ‘formação clássica’. “Ele foi um dos fundadores da banda. A parceria Paula e Leoni é responsável por vários clássicos do Kid, que tocamos até hoje nos shows. Admiro o Leoni como compositor e artista e acho ótimo termos voltado a compor juntos nesses últimos anos”, elogia o saxofonista e cantor George Israel.
Leoni era namorado de Paula Toller e ‘Pintura Íntima’ foi sua primeira composição. O célebre refrão, acredite, nunca agradou ao autor. “Eu pensava num tema como ‘Sexual Healing’, do Marvin Gaye, em que os problemas são resolvidos na cama, dão uma ‘virada’ no relacionamento do casal”, explica Leoni no livro ‘Dias de Luta — O Rock e o Brasil dos Anos 80’.
Reza a lenda que ele tentou até o último momento mudar o verso “amor com jeito de virada”. Não conseguiu, e muita gente ainda canta: “amor com jeito de pirada”.

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